domingo, 13 de setembro de 2009

Das areias de Copacabana rumo ao caos: Eficiente, moderno, inédito e mentiroso

Das areias de Copacabana rumo ao caos: Eficiente, moderno, inédito e mentiroso

Por Sergio U. Dani (*)

Políticos com visão curta não passam da praia. Assim também a riqueza
curta e a mentira, essas criadoras da pobreza longa.

Aécio Neves, querendo se safar de um jornalista incômodo na frente de
platéia internacional, disse ter sido criado na democracia. Ele
parecia acreditar no que dizia, talvez por ter sido neto de Tancredo
Neves, o que lhe confere uma espécie de poder democrático hereditário
permanente, como se tal coisa existisse.

Na verdade, todos sabemos que democracia verdadeira e duradoura nunca
existiu no Brasil, e muito menos nos instantes da “criação de Aécio”,
neto de Tancredo, fruto da ditadura militar. Na verdade, todos sabemos
que Aécio Neves, o “Aecinho”, o filho de Aécio-pai foi criado nas
areias de Copacabana.

Com seu currículo arenoso, eis que assume a capitania hereditária de
Minas Gerais e agora almeja a capitania hereditária do Brasil. Sua
estratégia para sair da areia? Transformar-se no símbolo do eficiente,
do moderno e do inédito, talvez inspirado em Juscelino Kubitschek,
esse sim criado órfão de pai, na pobreza e na dureza de Diamantina.
Mas metamorfoses não se operam por vontade divina ou redenção da
carne. Antes, elas são frutos da natureza íntima do indivíduo, sua
história natural e sua evolução, ingredientes que em Aécio remontam às
areias de Copacabana.

Tenho observado que Aécio não nega suas origens arenosas. Ele até as
tem expandido. Algumas de suas ações políticas no Estado de Minas
Gerais têm transformado tudo em pó. Na capitania hereditária de Minas,
licenças ambientais para verdadeiros genocídios são concedidas para
mineradoras transnacionais e seus testas-de-ferro com o conhecimento e
o apoio de Aécio, o eficiente.

Manancias de água pura, as fontes de vida e saúde duradouras para
milhões de brasileiros são destruídas e contaminadas a golpes das
canetas palacianas de Aécio, o moderno. A riqueza mineral do Estado é
colocada com eficiência e modernidade à disposição da economia
mundial, a troco da morte e da pobreza local. O inédito fica por conta
das sutilezas dos atos, da sabotagem moral em época de pretensa
liberdade, dos volumes extraordinários das riquezas que vão e da
pobreza e das doenças que ficam.

Aécio Neves quer ficar no poder e precisa construir certas "verdades"
ao seu favor. Ele deve achar que pode ou que merece. Ele tem o apoio
de uma classe predadora que ganha muito com a sua eficiência,
modernidade e ineditismo. Agora ele precisa do apoio dos milhões de
pobres, os que estão morrendo e empobrecendo por causa dessa política
inacessível. O que fazer? Mentir. Fazê-los crer que também estão
ganhando.

Mentir é próprio dos tiranos. Mas ninguém consegue mentir para todo
mundo, o tempo todo. Para completar sua estranha metamorfose, Aécio
ainda precisa aprender a cantar Folia de Reis com Chico Anísio e
Arnaud Rodrigues: “Se é da terra, que fique na areia, o mar bravo só
respeita Rei.”

(*) De Göttingen, Alemanha, em 12 de setembro de 2009. Dedico esse
ensaio aos meus amigos jornalistas de Minas Gerais, vigiados,
perseguidos, amordaçados ou demitidos porque ousaram criticar o
governo Aécio Neves.

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