segunda-feira, 20 de julho de 2009

Transnacional canadense quer envenenar preciosas fontes de água



Abuso inacreditável! Transnacional canadense quer envenenar preciosas fontes de água de beber de milhares de pessoas no Brasil

Por Sergio Ulhoa Dani (*)

A mineradora transnacional canadense, Kinross Gold Corporation, proprietária da mina Morro do Ouro, quer jogar os restos tóxicos da sua mineração de ouro na caixa d’água de 90 mil pessoas, em Paracatu, cidade do noroeste do Estado de Minas Gerais, Brasil.

A caixa d’água de Paracatu é o Sistema Serra da Anta, composto pela Serra da Anta e os seus dois vales: a oeste, o Vale do Acangaú e a leste, o Vale do Machadinho (Figura 1).


Figura 1 – Representação esquemática do Sistema Serra da Anta, num corte transversal no sentido oeste-leste. O corte mostra as diversas camadas de rochas e os dois vales que compõem o sistema: o Vale do Acangaú (oeste) e o Vale do Machadinho (leste). O Vale do Machadinho é mais estreito e mais elevado que o Vale do Acangaú.
O sistema Serra da Anta é classificado pelos geólogos como um aqüífero fissural. Isso significa que a água das chuvas que cai sobre a Serra da Anta infiltra pelas rochas e se acumula em espaços ou fissuras entre as rochas. A força de infiltração da água é chamada de “capilaridade” e ela gera pressão. A pressão da água e a força da gravidade da terra puxam a água para fora das fissuras da serra, fazendo aparecer as nascentes superficiais que alimentam os córregos do Sistema Serra da Anta. Parte da água penetra camadas mais profundas, para constituir a água subterrânea (Figura 2).

Figura 2 – Representação esquemática do fluxo das águas da chuva que caem sobre o Sistema Serra da Anta. Uma parte da água das chuvas escorre pela superfície e uma parte infiltra pelas rochas. Dessa água que infiltra pelas rochas, parte sai pelas nascentes superficiais que alimentam os córregos e outra parte infiltra mais profundamente, para constituir a água subterrânea.
Se a mineradora construir um lago de rejeitos tóxicos no Vale do Machadinho, a pressão da água do lago vai se somar à pressão da água da chuva, à força da capilaridade e à força da gravidade da terra. A força resultante vai chupar a água contaminada do lago para o Vale do Acangaú. Essa água vai trazer para o Ribeirão Santa Isabel o arsênio e outros venenos que a mineradora quer despejar no Vale do Machadinho (Figura 3).

Figura 3 – Esse esquema mostra o que poderá acontecer se a mineradora construir um lago de rejeitos no Vale do Machadinho: a pressão da água do lago vai se somar à pressão da água da chuva e à força da gravidade da terra. A força resultante vai chupar a água contaminada do lago do Vale do Machadinho para o Vale do Acangaú. Essa água vai lançar no Ribeirão Santa Isabel e no lençol freático subterrâneo o arsênio e outros venenos que a mineradora quer jogar no Vale do Machadinho. Atualmente, 80% da água de Paracatu é captada no Ribeirão Santa Isabel. O restante é captado de poços profundos.
Quem não acredita que o fenômeno descrito aqui possa acontecer, deve fazer um experimento bastante simples. Coloque um pouco de anilina colorida ou outra tinta solúvel em água num copo de água limpa. O copo com água colorida representa o lago contaminado pelo veneno da mineradora. Agora pegue um pedaço de papel de filtro de café limpo. O papel representa as rochas da Serra da Anta. Encoste o papel de filtro na água suja do copo e observe o que acontece. A água “sobe” pelo papel, carregando a poluição do copo. A água “subiu” pela serra, graças à força de capilaridade, carregando consigo a poluição do lago de rejeitos da mineradora. A água encontra caminhos que poucos podem imaginar ou suspeitar. Esse experimento tão simples prova que água sobe morro e atravessa pedra.

As autoridades e o público não podem ficar indiferentes ao risco de contaminação da água de milhares de pessoas em Paracatu. A mineradora tem que ser impedida de construir um lago de rejeitos tóxicos no Vale do Machadinho. Esses rejeitos contêm centenas de milhares de toneladas de arsênio, veneno suficiente para matar toda a humanidade, e provocar uma catástrofe ambiental de amplas proporções, como a catástrofe de Bangladesh e Bengala Ocidental.

A água do Vale do Machadinho é preciosa para Paracatu, porque é água pura de montanha que chega por queda natural ao centro da cidade. Água assim, pura e barata, é preciosa e está ficando cada dia mais difícil de encontrar. Tem que ser defendida como se fosse um patrimônio mundial da humanidade.

(*) Médico, doutor em medicina e patologia, livre-docente em genética, escrevendo de Göttingen para o www.alertaparacatu.blogspot.com, em 20 de julho de 2009.

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