quarta-feira, 18 de março de 2009

O estranho caso do policial que sumiu, mas deixou rastro


Paracatu, 18 de março de 2009

O estranho caso do policial que sumiu, mas deixou rastro

Sergio Ulhoa Dani

Soube de um caso estranho de certo policial militar que desapareceu, após pegar uma arma de fogo. Não falo da arma do Estado, que todo policial carrega na cintura, com munição contada e controlada. Falo da arma carregada de um cidadão amigo meu, Gaspar Reis Batista Oliveira, conhecido em Paracatu por Gaspar Chaveiro. Gaspar é homem de fibra, ex-vereador, cidadão exemplar e responsável por uma ação de moralização da Polícia Militar, em passado recente, na nossa cidade de Paracatu. Vou explicar melhor essa história, conforme contou-me o próprio Gaspar.

Na madrugada do dia 8 de março, meu amigo Gaspar ouviu ruídos suspeitos no quintal de sua casa, no Bairro Paracatuzinho. Prevenido, pegou seu revolver calibre 38 e foi vasculhar seu quintal, de pijamas e com sua lanterna. Eis que uma viatura da Polícia Militar de Minas Gerais, ocupada pelo oficial que se apresentou como “Tenente André” e seu colega estaciona em frente ao portão da casa do Gaspar. O tal Tenente André, integrante das forças policiais recém-chegadas a Paracatu, conhecidas como “Reforços da Polícia Militar”, ou RPMs, vê Gaspar armado em casa, pelo portão da garagem, e, sem conhecê-lo, quis saber que arma era aquela. “Pois não,” – respondeu Gaspar – “é meu revólver calibre 38, refrigerado e cheio de balas”. “Quero ver” – teria dito o tenente, pulando da viatura em direção ao Gaspar, que imediatamente fechou o portão de casa.

Desconfiado do agente da polícia, Gaspar disse a ele que mostraria seu revólver e até o certificado do seu registro, sem problema, desde que o oficial lhe devolvesse a arma em seguida. Assim foi combinado e assim fez o Gaspar, passando o revólver e o registro por baixo do portão. Mas, o tenente não quis devolver a arma nem o registro. Em vez disso, ele queria que Gaspar viesse buscá-los, lá fora, na rua em frente da casa de Gaspar, onde a viatura estava estacionada. Diante da visível armação, Gaspar repreendeu o PM, através do portão da garagem fechado. O PM André não gostou e deu um chute no portão, deixando seu rastro ali. Não satisfeito, subiu no muro da casa do Gaspar, ameaçando invadi-la. Algo deve tê-lo feito mudar de opinião, porque desceu do muro e foi embora, levando a arma do Gaspar na viatura, com munição e registro.

No dia seguinte, Gaspar procurou a autoridade policial para exigir seus direitos de cidadão. Para sua surpresa, o boletim da ocorrência número 4101/09, lavrado no 45º BPM, contava uma história diferente, e não vinha assinado pelo Tenente André, que nem mesmo figurava do BO. O Tenente André misteriosamente havia desaparecido do feito. Seu paradeiro foi o mesmo da munição do revólver do Gaspar, que desapareceu também, como que por encanto. Gaspar só conseguiu a restituição da sua arma cinco dias depois do chute que levou no seu portão e na sua dignidade.

Pelo menos, foi muito bem atendido pelo jovem e bem-educado Delegado Rogério de Castro, da Polícia Civil, talvez envergonhado do despreparo de um colega militar, e do furto de munição praticado pela polícia.

Moral da história: Polícia que chuta e desaparece também deixa rastro.


Foto – O rastro do PM no portão da casa do Gaspar Chaveiro.

Um comentário:

  1. Paracatu vai se revelando um retrato de tudo aquilo que não queremos para o nosso país - uma cidade já desfigurada na sua geografia pelos feitos de uma mineradora transnacional ambiciosa e agora , como se não bastasse, vai configurando o perfil sócial de uma cidade encurralada pelos desmandos daqueles que deveriam garantir a lei e a ordem - mas que ao invés, provocam a desordem e o desrespeito públicos. Triste quadro!
    Tomara que algum promotor na ativa, na cidade, tome conhecimento do fato.
    Cylene Gama

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