segunda-feira, 23 de junho de 2008

Envenenamento por Mercúrio


Envenenamento por Mercúrio

Fonte: Wikipedia

O envenenamento por mercúrio (também conhecido por mercurialismo, hidrargiria, síndrome de Hunter-Russell, acrodinia, quando afeta crianças, e "Doença de Minamata", quando causa malformações congênitas em fetos e recém nascidos) é uma doença causada pela exposição ao mercúrio ou seus compostos tóxicos. Mercúrio é um metal pesado tóxico, que ocorre na sua forma elemental, inorganicamente como sais, ou organicamente, como compostos organomercuriais; os três grupos variam quanto aos efeitos devido a diferenças em sua absorção e metabolismo, entre outros fatores. Entretanto, com exposição suficiente, todos os compostos mercuriais tóxicos causam danos ao sistema nervoso central e outros órgãos e sistemas como o fígado e o trato gastrintestinal.

Os sintomas tipicamente incluem perdas sensoriais (visão, audição, fala, tato) e perda de coordenação motora. O tipo e grau dos sintomas exibidos dependem do tipo de toxina, dose, do método e da duração da exposição.

Sinais e sintomas

Sintomas comuns incluem neuropatia periférica (que se apresenta como parestesia, coceira, sensação de queimação ou dor), manchas descoloridas na pele (faces, pontas dos dedos das mãos e dos pés rosados), edema (inchaço), e descamação (pele morta se desprende em camadas).

O mercúrio bloqueia a via de degradação das catecolaminas, resultando em excesso de epinefrina, o que causa hiperhidrose (sudorese profusa), taquicardia (aceleração persistente do ritmo dos batimentos cardíacos), ptialismo mercurial (hipersalivação ou "muita água na boca") e hipertensão (pressão alta do sangue).

Crianças afetadas podem apresentar bochechas e nariz vermelhos, lábios eritematosos (lábios vermelhos), perda de cabelo, dentes e unhas, lesões de pele transitórias, hipotonia (fraqueza muscular) e fotofobia (desconforto e intolerância à luz). Outros sintomas incluem disfunção dos rins (e.g. sindrome de Fanconi) ou sintomas neuropsiquiátricos (labilidade emocional, memória prejudicada, insonia).

Causas

O envenenamento por mercúrio é causado por exposição suficiente ao elemento mercúrio ou seus compostos tóxicos. O consumo de peixe contaminado é a fonte mais significativa de exposição relacionada à ingestão em humanos, embora as plantas e os animais de criação também contenham mercúrio devido à bioacumulação do mercúrio a partir do solo, água e atmosfera, e devido à biomagnificação pela ingestão de outros organismos contendo mercúrio. A exposição ao mercúrio pode ocorrer pela respiração de ar contaminado, ou a partir do uso ou rejeito inadequado de mercúrio ou objetos que contenham mercúrio, por exemplo, bulbos de lâmpadas fluorescentes.

Fontes geradas por humanos como minas de carvão e outros minérios emitem aproximadamente metade do mercúrio presente na atmosfera, e as fontes naturais, como vulcões, são responsáveis pelo restante. Estima-se que dois terços do mercúrio gerado pelas atividades humanas provenham da combustão estacionária de carvão mineral. Outras fontes significativas incluem a produção de ouro, produção de metais não ferrosos, produção de cimento, lixo, crematórios, produção de soda cáustica, produção de ferro guza e aço, produção de mercúrio (geralmente para baterias), e queima de biomassa.

O mercúrio e muitos de seus compostos químicos, especialmente os organomercuiais, também podem ser rapidamente absorvidos por contato direto com a pele desprotegida e, em alguns casos (como, por exemplo, dimetil mercúrio), com a pele insuficientemente protegida. O mercúrio e seus compostos são comumente usados em laboratórios químicos, hospitais, clínicas odontológicas, e fábricas que produzem itens como bulbos de lâmpadas fluorescentes, baterias e explosivos.

Efeitos tóxicos

O mercúrio causa lesões ao sistema nervoso central, sistema endócrino (glândulas), rins e outros órgãos, e afeta de forma adversa a boca, as gengivas e os dentes. A exposição por longos períodos de tempo ou a exposição aguda ao vapor de mercúrio pode resultar em dano ao cérebro e morte. O mercúrio e seus compostos são particularmente tóxicos aos fetos e às crianças. Mulheres que estiveram expostas ao mercúrio durante a gravidez deram à luz crianças com sérios defeitos de nascimento (e.g., doença de Minamata).

A exposição ao mercúrio em crianças novas pode ter sérias consequencias neurológicas, impedindo que as bainhas dos nervos sejam formadas adequadamente. O mercúrio inibe a formação da mielina, que é o componente proteíco que forma estas bainhas.

Existe evidência de que o envenenamento por mercúrio pode predispor à síndrome de Young (homens com bronquiectasia e baixa contagem de esperma).

O envenenamento por mercúrio nos jovens tem sido implicado no comportamento autístico, uma hipótese ainda controversa, visto que cerca de 90% dos casos de autismo são explicados pela genética.

Os efeitos do envenenamento por mercúrio Mercury dependem parcialmente do fato de ter sido causado pela exposição ao elemento mercúrio, compostos de mercúrio inorgânicos (como sais), ou compostos organomercuriais.


Elemento mercúrio

O azougue (mercúrio metálico líquido) é pouco absorvido por ingestão ou contato com a pele. Ele é perigoso devido ao seu potencial de liberar o vapor de mercúrio. Dados de experimentação animal indicam que menos de 0,01% do mercúrio ingerido é absorvido através do trato gastrointestinal intacto; emobora isso possa não ser verificado em indivíduos sofrendo de ileo. Casos de toxicidade sistêmica a partir da ingestão acidental são raros, e tentativas de suicídio via injeção intravenosa não parecem resultar em toxicidade sistêmica. Embora ainda não estudada quantitativamente, as propriedades físicas do elemento mercúrio líquido limitam sua absorção através da pele e à luz de sua baixa taxa de absorção pelo trato gastrointestinal, a absorção pela pele não seria alta. Algum vapor de mercúrio é absorvido pela derme, mas a absorção por esta rota é apenas cerca de 1% da absorção via inalatória.

Em humanos, aproximadamente 80% do vapor de mercúrio inalado é absorvido via trato respiratório, onde ele entra no sistema circulatório e é distribuído pelo corpo. A exposição crônica por inalação, mesmo em baixas concentrações variando de 0,7–42 μg/m3, causa efeitos tais como tremores, diminuição das capacidades cognitivas, e distúrbios do sono.

Compostos inorgânicos de mercúrio

O mercúrio ocorre na forma inorgânica como sais como o cloreto de mercúrio II. Os sais de mercúrio afetam primariamente o trato gastro-intestinal e os rins, e podem causar lesão renal; entretanto, como eles não podem cruzar a barreira hemato-encefálica facilmente, os sais de mercúrio infligem pouco dano neurológico sem a exposição contínua ou pesada. Como dois estados de oxidação de mercúrio formam sais (Hg+ e Hg2+), os sais de mercúrio ocorrem nas formas mercúrio (I) (or mercuroso) e mercúrio (II) (mercúrico). Os sais de mercúrio (II) são usualmente mais tóxicos que os de mercúrio (I), porque sua solubilidade em água é maior; portanto, eles são mais prontamente absorvidos a partir do trato gastrointestinal.

Compostos orgânicos de mercúrio

Os compostos de mercúrio tendem a ser muito mais tóxicos que o próprio elemento, e os compostos orgânicos de mercúrio são frequentemente extremamente tóxicos e têm sido implicados como causadores de danos ao cérebro e ao fígado. O composto de mercúrio mais perigoso, dimetil mercúrio, é tão tóxico que mesmo alguns microlitros derramados sobre a pele, ou mesmo sobre uma luva de látex, pode causar a morte.

O metil mercúrio é a maior fonte de mercúrio orgânico para todos os indivíduos. Ele se acumula na cadeia alimentar através da bioacumulação no ambiente, atingindo altas concentrações entre as populações de algumas espécies. Espécies de peixes grandes causam mais preocupação que as espécies menores. A U.S. Food and Drug Administration (FDA) e a U.S. Environmental Protection Agency (EPA) recomendam mulheres em idade de procriação, mães que amamentam e crianças pequenas a evitar completamente consumir peixes grandes, como tubarão e peixe-espada, e limitar o consumo de atum a não mais do que 170 g por semana, e de todos os outros peixes e moluscos a não mais que 340 g por semana. Entretanto, não há evidência que o consumo moderado de peixe nos Estados Unidos represente um risco significativo. Uma revisão de 2006 dos riscos e benefícios do consumo de peixes encontrou que, para adultos, os benefícios de uma a duas porções de peixe por semana superam os riscos, mesmo (exceto para algumas espécies) para mulheres em idade de procriação, e que evitar o consumo de peixes pode resultar em um excesso de mortes por doença coronariana e desenvolvimento neural subótimo em crianças.

O etilmercúrio é um produto da degradação do agente antibacteriano, tiosalicilato de etilmercúrio, que tem sido usado como um antiséptico tópico e um agente preservante em vacinas. Suas características ainda não foram tão intensamente estudadas como aquelas do metilmercúrio. Ele é clareado do sangue muito mais rapidamente, com uma meia-vida de 7 a 10 dias, e é metabolizado muito mais rapidamente que o metilmercúrio. Ele provavelmente não tem a habilidade do metilmercúrio de cruzar a barreira hematoencefálica via um transportador, mas, em vez disso, vale-se da simples difusão para entrar no cérebro.

Outras fontes de exposição ao mercúrio orgânico incluem o acetato fenilmercúrico e o nitrato fenilmercúrico. Esses compostos foram usados em tintas látex para uso interno, devido às suas propriedades antifúngicas, mas foram removidos em 1990 devido a casos de toxicidade.

Tratamento

O tratamento standard para os casos de envenenamento por mercúrio é a terapia de quelação usando DMSA (nos EUA), DMPS e ácido alfa lipóico (ALA) (na Europa, Russia e antigas repúblicas soviéticas). Um estudo de trabalhadores envolvidos na produção de cloreto mercuroso mostrou que o sal de sódio do ácido 2,3-dimercapto-1-propanosulfônico (DMPS) foi efetivo em baixar a carga de mercúrio corporal e a concentração de mercúrio na urina aos níveis normais.

A medicina alternativa faz uso dessas mesmas substâncias associadas ou não a outras, como vitamina C (ácido ascórbico), EDTA e "alimentos ricos em enxofre". Entretanto, foi visto que o mercúrio inorgânico (Hg2+) ligado ao EDTA (um passo necessário na quelação de mercúrio induzida pelo EDTA) forma um complexo (HgEDTA) que é potencialmente danoso ao citoesqueleto neuronal.

Alguns dos efeitos tóxicos do mercúrio são, em alguns casos, parcialmente ou totalmente reversíveis, seja através de terapia específica, ou através da eliminação natural do metal depois da interrupção da exposição. Entretanto, a exposição pesada ou contínua podem causar danos irreversíveis, particularmente em fetos, crianças e jovens.

Prevenção e regulação

O envenenamento por mercúrio pode ser prevenido (ou minimizado) através da eliminação ou redução da exposição ao mercúrio e seus compostos. Para esta finalidade, muitos governos e grupos privados têm feito esforços para evitar riscos comuns ou banir totalmente o mercúrio. Por exemplo, a exportação de mercúrio e alguns compostos de mercúrio pela União Européia será proibida a partir de 15/03/2011. A variabilidade entre regulamentos e recomendações é algumas vezes confusa, tanto para os leigos, quanto para os cientistas.

Exemplo: Estados Unidos da América

Agência regulatória - Atividade regulada - Meio - Tipo de composto de mercúrio - Tipo de limite - Limite
OSHA - exposição ocupacional - ar - mercúrio elemento - Teto (não exceder a) - 0,1 mg/m³
OSHA - exposição ocupacional - ar - mercúrio orgânico - Teto (não exceder a) - 0,05 mg/m³
FDA - bebida - água - mercúrio inorgânico - Concentração máxima permitida - 2 ppb (0,002 mg/L)
FDA - alimentação - alimentos do mar - metil mercúrio - Concentração máxima permitida - 1 ppm
EPA - bebida - água - mercúrio inorgânico - Nível máximo contaminante - 2 ppb (0,002 mg/L)

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